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domingo, 6 de março de 2011

O Vencedor

O Vencedor (The Fighter) - 2010. Dirigido por David O. Russel e escrito por Scott Silver, Paul Tamasy  e Eric Johnson. Fotografia de Hoyte Van Hoytema. Música de Michael Brook. Produzido por Dorothy Aufiero, David Hoberman, Ryan Kavanaugh, Todd Lieberman e Paul Tamasy. Paramount Pictures / USA.

 

Existe uma grande quantidade de filmes sobre lutadores que abordam o mesmo tema, a superação, talvez porque este tipo de esporte seja o que analogicamente melhor representa as pequenas e grandes batalhas cotidianas, com as quais aprendemos a apanhar, resistir, cair e levantar. O tema já foi abordado em clássicos como Touro Indomável (1980) e A Menina de Ouro (2003) e curiosamente tanto neste dois filmes quanto em O Vencedor (2010) o boxe é apenas a metáfora para os dramas que os personagens vivem em suas vidas pessoais. O Vencedor é, ao meu modo de ver, muito mais uma drama familiar sobre a superação de conflitos, vícios e mágoas, do que um filme sobre o esporte brutal dos ringues.
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Este foi o sexto filme que vi dentre os 10 que foram indicados ao Oscar de Melhor Filme neste ano, lembro de já ter comentado em resenhas anteriores sobre um paralelo que pode se fazer entre Cisne Negro (2010), A Rede Social (2010) e O Discurso do Rei (2010), tendo como foco o aspecto da “vitória”, que os personagens principais almejam. Cada um destes filmes aborda a vitória sobre determinada situação e ao serem analisados em conjunto podem nos proporcionar uma boa reflexão sobre o que realmente significa ser um vencedor. Um dos personagens do filme de David O. Russel nos ajuda a entender isso mais que nenhum dos outros. Mas antes vamos a uma breve sinopse de O Vencedor:

O Vencedor usa o boxe como alegoria para o drama familiar vivido pelo lutador

A história, inspirada em fatos reais, conta as batalhas pessoas do boxeador Micky Ward (Mark Wahlberg), até a conquista do título mundial de peso leve. Ward é agenciado por sua mãe, Alice (Melissa Leo), que o trata apenas como uma fonte de dinheiro e autopromoção. Ele é treinado por seu irmão mais velho, Dicky (Christian Bale), um ex-boxeador que apesar de se gabar da fama que teve no passado, está viciado em crack e envolvido em pequenos delitos. Dicky vê no irmão uma chance para sua própria alavancada de volta ao topo. Completam a família as outras sete irmãs de Micky, que também são parasitas que depositam no irmão a esperança de se enriquecerem. Já nas primeira sequências do filme fica bem claro que se trata das relações de uma família totalmente desajustada e imersa em problemas de difícil solução.

Melissa Leo e Christian Bale - atuações que lhes renderam o Oscar

Micky parece condenado ao fracasso e ao ostracismo por estar envolvido apenas em lutas injustas ou que não lhe garantirão uma significante visibilidade. A família não importa que o lutador seja massacrado no ringue, contanto que lucrem com cada uma das disputas. A situação começa a mudar quando o rapaz conhece Charlene (Amy Adans), que o alerta sobre as consequências do parasitismo de sua família. Com isso, a nova namorada de Micky desperta a ira da matriarca da família Ward, do irmão e das sete irmãs do lutador. O drama familiar se acirra quando Dicky é preso e substituído em sua função. Micky faz então um trato com o novo treinador e com o novo agente de manter sua mãe e irmão longe de seus negócios, para assim evitar mais confusões. A opressiva “unidade” familiar é desfeita e Micky se vê livre pra tentar vencer sua própria luta.

 

O fato de já conhecermos o final do filme (o próprio nome do longa já o esclarece), não nos priva de cada uma das emoções que o filme provoca. Há muito tempo não sentia tanta raiva de um personagem quanto senti de Alice neste filme, em certo ponto da trama percebemos que sua opressão e ganância é a causa da maioria dos problemas que afligem a família. A atuação de Melissa Leo é soberba, mas ainda fica devendo quando comparada à interpretação impecável e atormentadora de Christian Bale, que entrou de cabeça no papel que lhe foi dado, ele consegue expressar todo drama vivido pelo seu personagem real (ele precisou perder bastante peso para viver o viciado Dicky). É justamente o personagem de Bale, que melhor justifica o título de "o vencedor", principalmente por ter tido a coragem de reconhecer para o irmão que não era digno do mérito que lhe atribuíam e pela perseverança de vencer o vício que destruía sua vida (ao menos é esta a ideia que o filme passa). É ele quem consegue a façanha de vencer a si mesmo, que é muito mais difícil que derrubar um campeão do boxe nos ringues.

 

Mesmo pra quem, que como eu, não tem nenhum interesse por lutas, verdadeiros espetáculos de brutalidade, este filme é indispensável. E apesar do forte teor dramático, que é o que me atrai, O Vencedor também não vai desagradar aqueles que o assistirem apenas pelas lutas, as sequências de ação foram muito bem gravadas e dão uma impressionante sensação de realidade às cenas de pancadaria. O drama do vício do crack, mais atual do que nunca, é mostrado sem atenuantes no filme, e se materializa na decadência física e social do personagem de Christian Bale. É um filme 'atual', de atuações e temas fortes. Imperdível!

O Vencedor recebeu os Oscars de Melhor Ator Coadjuvante (Christian Bale) e Melhor Atriz Coadjuvante (Melissa Leo), tendo sido indicado nas categorias de Melhor Filme, Diretor, Atriz Coadjuvante (também pela atuação de Amy Adams) Roteiro Original e Melhor Montagem. O filme ainda ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante (Christian Bale) e Atriz Coadjuvante (Melissa Leo), tendo sido indicado ao prêmio em outras quatro categorias.


Assista ao trailer de O Vencedor no You Tube ! (clique no link)
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