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quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Igualdade é Branca

A Igualdade é Branca (Trois Couleurs: Blanc) - 1994. Dirigido por Krzysztof Kieslowski. Roteiro de Krzysztof Kieslowski & Krzysztof Piesiewicz. Música de Zbigniew Preisner. Direção de Fotografia de Edward Klosinski. Produzido por Marin Karmitz. CAB; France 3; Canal+; MK2; Tor & TSR / França-Polônia-Suiça.

 

Alguns críticos consideram A Igualdade é Branca (1994) o mais fraco dentre os filmes da Trilogia das Cores de Krzysztof Kieślowski e isto foi o que me levou à opção de assisti-lo antes dos outros dois, contrariando assim a ordem cronológica de lançamento dos filmes. Os três longas desenvolvem histórias independentes, cada uma delas pautada por um dos ideais da revolução francesa, que foram associados à cada uma das cores da bandeira do país. Como o título do filme no Brasil deixa claro, o tema deste seria a “igualdade”, aspecto que a meu modo de ver não está tão explicito na trama. A história é simples, porém cheia de sutilezas, que trazem um significado maior, além daquele que é transmitido pelos diálogos entre os personagens.

Karol Karol (Zbigniew Zamachowski) é um imigrante polonês que mudou para França após o casamento com Dominique (Julie Delpy), uma linda francesa. O casamento deles não estava indo bem há um bom tempo, no entanto Karol Karol se surpreende ao ser intimado a comparecer no Palácio de Justiça de Paris, para uma audiência relativa ao pedido de divórcio feito pela esposa. Ele parece não acreditar no que está acontecendo e por não conseguir se defender junto à Corte, uma vez que não fala quase nada em francês, além de ser obrigado a conceder o divórcio, ele ainda perde praticamente tudo na partilha de bens. Depois de vagar como um mendigo pelas ruas de Paris, Karol Karol, consegue voltar para a Polônia, com a ajuda de Mikolaj (Janusz Gajos), um outro imigrante polonês, que ele conheceu no metrô parisiense, onde passava as noites.


 

Após uma dura viagem, dentro de uma mala como clandestino, Karol Karol chega de novo na Polônia e lá volta a exercer a sua antiga profissão, a de cabeleireiro. Mas ao perceber que não conseguiria ganhar muito dinheiro desta forma, ele começa a buscar outro emprego e acaba se tornando o segurança particular de um mafioso local. Karol Karol consegue fazer fortuna depois de passar a perna em seu patrão e conseguir comprar alguns terrenos por uma mixaria e revendê-los em seguida por um dinheirão. Com a grana ele abre uma empresa que prospera rapidamente. É a partir de então que ele decide por em prática um plano de vingança contra a ex-esposa, por quem ainda nutre uma intensa paixão.

 

Confesso, que esta estava sendo uma das resenhas mais difíceis de escrever desde que reformulei o Blog, cheguei a sentir a necessidade de rever o filme, ou até mesmo de refletir melhor sobre ele, mas ao mesmo tempo pensei que as peças soltas poderiam (ou não) serem encontradas nas outras duas histórias da trilogia. Preferi, sendo assim, não terminar este artigo com um grande hiato. Ainda não sabia dizer bem ao certo o que tinha achado do filme, ainda não conseguia perceber nele a genialidade que atribuem a Krzysztof Kieślowski. Quando assisti A Fraternidade é Vermelha (1994) foi como se minha visão se expandisse sobre o primeiro filme. A abordagem sobre a fraternidade me ajudou a entender o que estava sendo dito sobre a liberdade

 

A questão sobre a igualdade, como havia dito, não é tão explícita, creio possa fazer uma análise sobre o tema, lançando um olhar um pouco mais atento sobre a questão de Karol Karol como imigrante e sua relação com sua esposa. A trama deixa bem claro que o país que tanto se vangloria de ser ser igualitário, não consegue ouvir nem julgar com equidade o estrangeiro. Na relação entre os protagonistas percebemos o tema sob uma outra ótica, o da igualdade conquistada, neste caso a de gênero. Dominique pede a anulação do casamento alegando que a união entre eles não está sendo consumada, uma vez que o marido é impotente, esta situação exemplifica como a igualdade é por vezes distorcida. Provando que pode se igualar aos homens, até na ideia de que o relacionamento só se sustenta com sexo, a mulher abre mão do casamento, numa decisão quase “machista”, mostrando que nem sempre o modelo a que se deseja igualar é o melhor.

 

Complicado dizer se o filme é uma exaltação da busca pela igualdade ou uma contundente crítica à forma com que ela é explorada. A conclusão a que chego é a de que Kieślowski talvez tenha tido a intenção de dizer com a trilogia que as pessoas, mesmo com seus ideais, estão totalmente perdidas e que nem as convicções, que elas tanto idolatram, podem mais lhes dar um norte ou um sentido maior diante da complexidade de suas vidas. A igualdade seria apenas uma abstração filosófica não palpável, em torno da qual existem ainda muitas indagações. Acreditamos que somos iguais, e agora? O que fazemos com nossa igualdade? Ela pode nos tornar mais felizes? Cheguei também à conclusão de que o brilhante olhar sobre as sutilezas é o que torna o diretor tão genial na forma de contar as histórias. Apesar da atuação do protagonista não convencer em alguns momentos, A Igualdade é Branca merece, e muito, ser visto. Preste atenção na fotografia, que trabalha as cores de forma magnífica e nos movimentos de câmera que captam as imagens como um olhar atento e curioso, que praticamente nos guia através dos acontecimentos e além deles. Indico! Se possível assista aos três em sequência!


Confiram a resenha crítica dos outros dois filmes da Trilogia das Cores aqui no Sublime Irrealidade:.

Assista ao trailer de A Igualdade é Branca no You Tube ! (clique no link)
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Um comentário:

  1. Kieslowski considerou este filme como seu favorito da trilogia. Uma comédia Kieslowski, é claro. Mas também uma história de amor. E o melhor de tudo, eles são finalmente salvos no ferry. Às vezes, é bom para ser salvo.

    Alexandre Fabbri
    KIESLOWSKI'S WORLD

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