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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Além da Linha Vermelha

Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line) - 1998. Dirigido e escrito por Terrence Malick, adaptado do livro homônimo de James Jones. Direção de Fotografia de John Toll. Música Original de Hans Zimmer e John Powel. Produzido por Robert Michael Geisler, Grant Hill e John Roberdeau. 20th Century Fox / EUA.



"Esse grande demônio, de onde vem? Como se entranha dentro do mundo? De que semente, de que raiz é que se desenvolveu? Quem é que está fazendo isso? Quem está nos matando? Nos furtando a vida e a luz... Brincando com o que talvez pudéssemos vir a saber. Será que a nossa ruína beneficia a terra de alguma maneira? Será que ajuda a grama a crescer ou o sol a brilhar? Esta escuridão está dentro de ti também? Já teve este pesadelo também?"

Vários filmes, desde os primórdios do cinema, já mostraram os horrores da guerra, mas poucos com a mesma poesia, angustiante e ao mesmo tempo bela, de Além da Linha Vermelha (1998). Quando assisti ao filme pela primeira vez, não consegui aprecia-lo em sua plenitude. Acabei me perdendo na complexidade de seu roteiro, em parte por não esperar dele mais do que esperaria de qualquer outro filme de guerra. O principal diferencial deste filme, quando comparado a tantos outros do gênero, é que o seu atrativo não são as cenas de batalha nem a exaltação de um dos lados que estão em combate. A subversão das fórmulas prontas pode ser um fator negativo para quem está acostumado ao convencionalismo hollywoodiano e um deleite para quem aprecia a qualidade criativa do cinema de arte. Além da Linha Vermelha é um claro exemplo do perfeccionismo e da genialidade de Terrence Malick, cineasta que produziu apenas 5 longas em quase 40 anos de carreira.


Malick estava “parado” a mais de 20 anos quando anunciou o interesse de adaptar o livro de James Jones, o retorno do cineasta foi visto por atores renomados como uma oportunidade única de trabalhar com o diretor. Um elenco enorme esteve mobilizado durante a pré-produção do longa. Robert DeNiro, Robert Duvall e Tom Cruise receberam cópias do roteiro. Kevin Costner, Brad Pitt, Edward Norton, William Baldwin, Edward Burns, Josh Hartnett, Philip Seymour Hoffman, Stephen Dorff, Leonardo DiCaprio, Nicolas Cage e Johnny Depp fizeram leituras, se encontraram com o diretor ou tiveram em algum momento seus nomes associados ao mega cast. Reza a lenda que Sean Penn teria dito: “me dê um dólar e me diga onde aparecer”, ao receber diretamente de Malick o convite para integrar o elenco.


Do grande contingente de atores que fizeram testes ou leituras, relativamente poucos chegaram a gravar algumas cenas, dentre estes, Billy Bob Thornton, Martin Sheen, Gary Oldman, Bill Pullman, Lukas Haas, Viggo Mortensen e Mickey Rourke tiveram todas as sequencias em que apareciam cortadas na edição final. Dentre aparições, participações e atuações de fato, sobraram, dentre outros, Adrien Brody, George Clooney, John Cusack, Woody Harrelson, Jared Leto, Dash Mihok, Tim Blake Nelson, John C. Reilly, John Travolta, Kirk Acevedo, Paul Gleason, Miranda Otto, Nick Stahl, todos em atuações precisas e que não deixam nada a desejar. Os destaques, na minha opinião são as atuações de Sean Penn (como o cético Primeiro Sargento Edward Welsh), de Jim Caviezel (como o Soldado Robert Witt), de Elias Koteas (como o Capitão James Staros, um dos poucos personagens que ainda conservam um pingo de honra) e de Nick Nolte (fantástico como o impassível Tenente Coronel Gordon Tall).


Ao contrário de outros filmes do gênero, que tentam recriar determinado evento histórico ou simplesmente mostrar cenas de explosão e morte, Além da Linha Vermelha adentra é no consciente dos personagens, extraindo de lá todos os fantasmas e espectros forjados pela guerra. Através de narrações em off, alguns dos personagens expõem seus medos e incertezas e descrevem o pavor vivenciado diante da barbárie. As reflexões, de forte teor filosófico, mergulham em questões complexas, como a imortalidade, o porquê do sofrimento, o lugar do homem no universo e a busca de um significado maior para toda a loucura que estão vivendo. O filme parte da desconstrução do macro, representado pelo conflito como um todo, para chegar até a concepção do micro, materializada no conflito individual de cada um dos envolvidos.


Através de flashbacks, percebemos que a força, que os soldados necessitam, para continuar lutando lutas que não são suas, é buscada bem longe do front. É na idealização da família e do aconchego do lar que aqueles homens, feridos psicológica e fisicamente, buscam motivos para não se entregarem à morte que está constantemente à espreita. A história do filme, ambientada em sua maior parte na Ilha de Guadacanal, localizada no Pacífico Sul, remonta um dos eventos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial. A ilha era vista, tanto por japoneses, quanto por americanos, como um ponto estratégico, que podia determinar o rumo do conflito bélico. A missão dos soldados americanos, enviados para lá em um navio, era a de retomar o controle da ilha e assim destruir a estratégia dos japoneses que já tinham construído uma base lá.


A natureza exuberante da região é apresentada como um organismo vivo, um todo do qual alguns dos personagens se questionam se fazem parte, ou se não são nada mais que antagonistas. A beleza selvagem da ilha fornece o contraste perfeito entre idealização do paraíso na terra e a sangrenta e injustificável batalha que é travada no local. Com uma fotografia exuberante, são captadas algumas das imagens mais belas e dotadas de significação já reproduzidas pelo cinema. O reflexo dos raios solares penetrando na mata densa, o vento se esgueirando sutilmente nas folhagens, os corpos amontoados em um vilarejo... tudo isso compõe uma verdadeira poesia visual. John Toll, o diretor de fotografia, ilumina cada fotograma, como se fosse um quadro, uma obra de arte que consegue extrair a mais pura beleza dos acontecimentos mais repulsivos.


Além da Linha Vermelha passa a fazer parte de minha lista pessoal de melhores filmes de guerra, dividindo o pódium com Platoon (1986) de Oliver Stone e Apocalypse Now (1979) de Francis Ford Coppola. Reconheço que não é um filme que tende a agradar de imediato a todos os públicos, mas é um daqueles que deveria ser visto, sentido e refletido não só por cinéfilos, mas por todos que ainda vivem em um mundo que cultua a guerra, onde soldados são apenas peões caminhando para a morte em um grande tabuleiro. É sem dúvidas um filme imperdível! Ultra recomendado! 

Naquela que foi uma das edições mais injustas da premiação feita pela Academia, Além da Linha Vermelha foi indicado a sete Oscars, porém não levou nenhum deles. As indicações foram nas categorias de Melhor Filme, Diretor, Roteiro Adaptado, Fotografia, Edição, Trilha Sonora e Som. Tamanha gafe não seria cometida no Festval de Berlim, onde filme ganhou o prêmio máximo, o Urso de Ouro.


Assistam ao trailer de Além da Linha Vermelha no You Tube,
clique AQUI !

Fiquem atentos para a estreia de A Árvore da Vida, o mais recente trabalho de Terrence Malick, que deve chegar em terras tupiniquins [já com bastante atraso] em breve.


7 comentários:

  1. Muito massa o blog!
    Retribuindo a visita aqui
    http://baixarelando.blogspot.com

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  2. muito legal, assisti o trailer e adorei, parabéns pelo blog, já estou seguindo se puder me dar uma força também...
    www.paullodark.blogspot.com

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Já vi, gostei muito..bjus

    http://angelmartinss.blogspot.com/

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  5. Eu já vi esse filme umas oito vezes. Quanto mais você assiste mais instigante ele se torna. Uma obra-prima que poucos tem capacidade para compreender!

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  6. É um retrato muito mais psicológico e filosófico sobre a guerra do que os filmes comuns que dão ênfase a ação e ao heroísmo.

    Valeu pela visita ao blog, estou linkando seu endereço no meu blog.

    Abraço

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