N° de acessos:

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Encontros e Desencontros

Encontros e Desencontros (Lost in Translation) - 2003. Dirigido e escrito por Sofia Coppola. Direção de Fotografia de Lance Acord. Música de Kevin Shields. Produzido por Sofia Coppola e Ross Katz. Focus Features – Universal / EUA | Japão.


Hoje, antes de começar a assistir ao Encontros e Desencontros (2003), estava refletindo, tentando entender porquê eu me identifico tanto com o que já vi da curta filmografia de Sofia Coppola. Poderia ser por causa da bela estética, das excelentes trilhas sonoras ou pelos roteiros muito bem escritos. Mas cheguei à conclusão de que tem algo a mais, existe em seus filmes um espécie de áurea que me remete a diversas coisas além daquilo que está sendo mostrado. Confesso que não consigo explicar bem tal fenômeno, mas desde que assisti Encontros e Desencontros pela primeira vez, senti que o filme estava de alguma forma falando de minha vida, não de minha vida pessoal, mas de minha vida em uma sociedade que dificilmente consegue se compreender e se comunicar.

Os filmes de Sofia não são tão fáceis de cair no gosto popular, ao retratar um cotidiano vazio e tedioso, o filme pode acabar taxado de chato. O ritmo lento e a falta de clímax é quase uma marca de seus longas, que geralmente mergulham na melancolia e no negativismo, aspectos característicos da sociedade pós-moderna. A inadaptação dos personagens em suas respectivas realidades se tornou o tema mais recorrente na obra da cineasta, o que já era perceptível desde seu primeiro longa, As Virgens Suicidas (1999)Encontros e Desencontros e Maria Antonieta (2006) seguiram o mesmo caminho e ao que parece, Um Lugar Qualquer (2010), que ainda não assisti, também.


Sofia Coppola foi elogiada pela crítica desde seu primeiro filme, compensando sua frustrada carreira de atriz, mas foi com Encontros e Desencontros que veio o respeito como uma realizadora madura, criativa e com o diferencial de não estar dirigindo, ou escrevendo para o grande público. No ano passado, na ocasião do lançamento de seu filme mais recente, Sofia chegou a ser acusada de falta de criatividade por voltar mais uma vez no mesmo tema que a teria consagrado. Reconheço que Maria Antonieta, apesar de ser bem legal, está bem aquém de seus primeiros trabalhos, o que poderia ser o indicativo de que o seu impeto criativo estivesse se esgotando, entretanto, não me arrisco a afirmar nada, sem primeiro conferir Um Lugar Qualquer, que dividiu opiniões nas avaliações da crítica especializada.


Independente de qualquer polêmica, atiçada pelos críticos em torno da carreira de Sofia Coppola como diretora, acredito que Encontros e Desencontros se encaixe perfeitamente em qualquer lista onde figure os filmes essenciais e mais importantes da década. Com um roteiro muito bem escrito, uma trilha sonora muito bem escolhida, ótimas tomadas e excelentes atuações, o filme consegue representar o isolamento social do indivíduo contemporâneo, que não consegue se encontrar nos relacionamentos que constrói, nem no convívio diário com pessoas estranhas e tão pouco no trabalho que realiza.


Na trama, Bob Harris (Bill Murray) é um respeitado ator norte-americano que está no Japão, numa viagem a trabalho, ele irá gravar uma comercial e participar de uma sessão fotográfica para a divulgação de uma marca de whisky. Desde a chegada em Tóquio, Bob não consegue se fazer compreendido, a barreira da diferença de idiomas passa a lhe parecer quase intransponível. Charlotte (Scarlett Johansson) é outra americana que não consegue se encontrar na terra do sol nascente, ela está acompanhado o marido, um fotógrafo de celebridades, que também está lá a trabalho. Ela fica sozinha no hotel enquanto ele viaja por várias cidades japonesas. Tanto Bob, quanto Charlotte estão completamente entediados e infelizes e a situação de incomunicabilidade, vivida em um país estranho, acaba sendo apenas uma metáfora do que são suas vidas pessoais.


O casamento de Bob está ruindo e o relacionamento de Charlotte também não está legal, algumas sequências do filme deixa bem claro que não é só no Japão que não conseguem ser escutados. Quase dispensável dizer já na primeira conversa, que acontece no bar do hotel, nasce entre eles um profundo sentimento de empatia, cumplicidade e identificação. O fato de estarem juntos, ameniza a dor provocada pela solidão. O roteiro foi muito bem sucedido em não explorar tanto o relacionamento entre eles, fugindo assim de qualquer clichê que poderia transformar o filme em uma comédia romântica água com açúcar. O fluxo da história transcorre sem grandes reviravoltas até chegar a um desfecho que ainda deixa algo em aberto.


Bill Murray dá um show de interpretação, sua expressão facial parece materializar a angústia existencial e a solidão de seu personagem, isto fica evidente já na primeira sequência do filme, que mostra a chegada de Bob a Tóquio. Scarlett Johansson está belíssima e formidável na pele de Charlotte, ela aos 18 aninhos já prova sua competência e habilidade, ao desempenhar tão bem um papel tão difícil, pela sua complexidade e profundidade da personagem. Encontros e Desencontros, como qualquer outro dos filmes de Sofia Coppola, tende a não agradar a todos já na primeira exibição, pois exige sensibilidade, coisa rara hoje em dia. O que posso dizer, é que o filme me pareceu ainda melhor do que quando o assisti pela primeira vez! Um verdadeiro clássico contemporâneo (na minha opinião)... Recomendo, mas não para todos!


Encontros e Desencontros ganhou o Oscar de Melhor Roteiro, tendo sido indicado também nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Bill Murray) e Melhor Diretor. O filme também ganhou o Globo de Ouro de Melhor Roteiro, Melhor Ator em Comédia ou Musical (Bill Murray) e Melhor Filme Comédia ou Musical, tendo recebido também uma indicação de Melhor Diretor.


Assistam ao trailer de Encontros e Desencontros no You Tube, clique AQUI !


4 comentários:

  1. A atuação do subestimado Bill Murray é economicamente genial.

    Abraços e sucesso com o blog!

    ResponderExcluir
  2. Adoro este filme Bruno! Coppola reuniu Murray e Johansson e a química aconteceu. Me identifiquei com algumas coisas de minha vida pessoal. Roteiro brilhante. As Virgens Suicidas já era bom. Um Lugar Qualquer não chega a ser tão interessante. E Maria Antonieta é apenas lindo visualmente, mas que engana com o script. "Encontros" é agora o melhor feito dela.

    Abs.

    ResponderExcluir
  3. Este filme é muito especial pra mim, no momento que assisti passava pelo vazio existencial, ao mesmo tempo que sucumbia em um desencontro amoroso.
    Adoro Sofia e seu jeitão 'sozinho' de roteirizar, seus filmes possuem aquela dramaticidade mais visceral e próxima de nós.
    Como você, este filme vai além da fotografia, TSO , atuações e enredo...Tem aquele algo a mais...Quando ouço Just Like Honey, parece que estou vivendo algo que ainda não vivi e que me dá uma angústia enooooorme.
    ah! adoro este filme.
    bjs

    ResponderExcluir
  4. Assisti esse filme em 2006 e foi o bastante. Ele é chatíssimo. Os personagens estão entediados, e eu com isso. Há muita gente entediada no mundo e nem por isso vira filme. Podiam ter filmado uma semana da minha vida, onde também nada acontece e vamos ver se ganharia um oscar. Enfim, li várias críticas ao filme e não consigo entender porque ver duas pessoas fazendo nada no Japão é considerado obra de arte. Só gostei da fotografia.

    ResponderExcluir